Sempre me ensinaram "Perdoa e esquece".
Ensinaram-me perdoa e segue em frente. As dores não alimentam o corpo e enfraquecem a alma.
Cresci a ouvir esse conselho e interiorizei esse principio, certa de que seria por esse caminho que iria encontrar o lugar certo para viver. Sonhei com um mundo perfeito em que todos se poderiam amar. Fiz do amor o meu lema de vida.
Hoje, a meio do caminho olho para trás e pergunto-me se será possível esquecer, sem nunca por de lado a necessidade de perdoar. Questiono-me se de facto esquecemos quem nos magoou, quando tenho a certeza de que, de cada vez, em que remexo no passado sempre surgem as imagens daqueles momentos em que ouvi e senti o que não queria de alguém a quem amava.
Com o tempo, e de preferência quando a dor ainda está fresca, perdoei para não deixar que a ferida continuasse a sangrar. Perdoei por mim e não pelo que a pessoa me fez. Perdoei, lá está, porque era urgente continuar em frente. Agora esquecer, esquecer é outra coisa.
As memórias não se esquecem. As memórias continuam a caminhar connosco e por vezes até se tornam um peso demasiado pesado para os nossos ombros. Não escolhemos o que esquecemos. Não apagamos dias da nossa vida e quando dizemos que esta ou aquela pessoa já não significa nada para nós, sempre aparece a maldita saudade que nos conduz para um tempo em que a felicidade nos cumprimentou e nos fez sorrir com as cores do último beijo que tínhamos trocado. Essa recordação parece-nos tão normal como respirar e por instantes quase acreditamos que os amores nunca terminam, porque deles ficam as lembranças que nos mantêm vivos.
As dores podem-nos ter torturado durante algum tempo, mas chega o dia em que temos de perdoar aquele coração que não quis continuar nosso mundo.
Perdoamos, mas não esquecemos. Somos a imagem do nosso passado e ele continua a reflectir-se no espelho em que a alma se contemplar para escolher as ruas onde quer viver.
Posso afirmar que não esqueci os amores que me pertenceram. Mostro com orgulho as feridas que contam histórias e o perdão dá vida a essas cicatrizes que deixaram de sangrar no dia em que perdoei quem deixou de me amar. Sei que o amor não acaba, o que termina é o desejo que nos aquecia o corpo e gritava por um abraço que nos levasse até ao céu da paixão.
"Perdoa e esquece" foi um ensinamento que ao longo dos anos fui alterando, para que hoje possa dizer que o certo é "perdoa e continua a viver", tudo porque há momentos que não se esquecem.
@angela caboz
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