Deus me protejaim e da maldade de ge de mnte boa. Chico César

Deus me protejaim e da maldade de ge de mnte boa. Chico César
É aqui onde eu me escondo do vento, me abrigo da chuva, invento canções pra passar o tempo e deixo a brisa me levar. Aqui eu conto histórias, revivo memórias, me espreguiço em lençóis antigos, carregados de saudade, escrevo poesia num papel de pão. Aqui eu fiz um canteiro com minhas flores preferidas, pendurei vasinhos verdes com ramas mais verdes ainda. Tem onze horas abertas, fumaça de café fresco e uma rede pra balançar. Aqui é o meu canto, meu mundo, meu remanso. Este é o meu lugar. -Eunice Ramos.

domingo, 6 de abril de 2025

 

Sempre me ensinaram "Perdoa e esquece".
Ensinaram-me perdoa e segue em frente. As dores não alimentam o corpo e enfraquecem a alma.
Cresci a ouvir esse conselho e interiorizei esse principio, certa de que seria por esse caminho que iria encontrar o lugar certo para viver. Sonhei com um mundo perfeito em que todos se poderiam amar. Fiz do amor o meu lema de vida.
Hoje, a meio do caminho olho para trás e pergunto-me se será possível esquecer, sem nunca por de lado a necessidade de perdoar. Questiono-me se de facto esquecemos quem nos magoou, quando tenho a certeza de que, de cada vez, em que remexo no passado sempre surgem as imagens daqueles momentos em que ouvi e senti o que não queria de alguém a quem amava.
Com o tempo, e de preferência quando a dor ainda está fresca, perdoei para não deixar que a ferida continuasse a sangrar. Perdoei por mim e não pelo que a pessoa me fez. Perdoei, lá está, porque era urgente continuar em frente. Agora esquecer, esquecer é outra coisa.
As memórias não se esquecem. As memórias continuam a caminhar connosco e por vezes até se tornam um peso demasiado pesado para os nossos ombros. Não escolhemos o que esquecemos. Não apagamos dias da nossa vida e quando dizemos que esta ou aquela pessoa já não significa nada para nós, sempre aparece a maldita saudade que nos conduz para um tempo em que a felicidade nos cumprimentou e nos fez sorrir com as cores do último beijo que tínhamos trocado. Essa recordação parece-nos tão normal como respirar e por instantes quase acreditamos que os amores nunca terminam, porque deles ficam as lembranças que nos mantêm vivos.
As dores podem-nos ter torturado durante algum tempo, mas chega o dia em que temos de perdoar aquele coração que não quis continuar nosso mundo.
Perdoamos, mas não esquecemos. Somos a imagem do nosso passado e ele continua a reflectir-se no espelho em que a alma se contemplar para escolher as ruas onde quer viver.
Posso afirmar que não esqueci os amores que me pertenceram. Mostro com orgulho as feridas que contam histórias e o perdão dá vida a essas cicatrizes que deixaram de sangrar no dia em que perdoei quem deixou de me amar. Sei que o amor não acaba, o que termina é o desejo que nos aquecia o corpo e gritava por um abraço que nos levasse até ao céu da paixão.
"Perdoa e esquece" foi um ensinamento que ao longo dos anos fui alterando, para que hoje possa dizer que o certo é "perdoa e continua a viver", tudo porque há momentos que não se esquecem.
@angela caboz

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