Eu só queria que o tempo fosse mais paciente comigo, e me esperasse na curva do caminho, e me deixasse observar os passarinhos e ver o sorriso das crianças.

Hoje eu só queria que o dia andasse mais devagar, e me esperasse revolver a terra, plantar minhas roseiras, ajeitar os meus vasos, regar minhas flores e ver borboletas voando.

Eu só queria que o dia desapegasse das urgências, das obrigações que se dissolvem, e me esperasse conversar comigo na tarde banhada de sol. E me deixasse ouvir o tic tac do relógio, arrastando a noite, contar estrelas e colher vaga-lumes.

Eu só queria que o tempo silenciasse os ruídos que mascaram a canção que toca em meu coração. E me deixasse sentir as manhãs e ouvir a vida acordando, começando outra vez.

Hoje eu só queria que o dia andasse mais devagar.

E levasse embora o medo de eu não ser o melhor de mim, e me esperasse em qualquer esquina pintada de giz.

Eu só queria que o dia parasse em frente ao mar, feito criança descobrindo o mundo, e sentasse comigo na areia pra ver o balé das ondas, as despedidas no cais e o regresso de quem enfrentou tormentas.

Eu queria que ele se debruçasse na janela, olhasse o horizonte todo alaranjado, e se perdesse numa conversa boa, perdesse o trem e resolvesse ficar.

E me deixasse construir meus castelos, banhar-me de chuva e devolver estrelas ao mar.

-Eunice Ramos